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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Nasce uma vocação

Ajoelhado à cabeceira do pai, o menino sentiu no fundo da alma a grandeza do Sacramento da Reconciliação. Ele também seria padre!
Irmã Michelle Viccola, EP
Era uma fria manhã de outono. Rafael chegava apressado em sua humilde casa, com o médico.
- Doutor, por aqui. Ele está se sentindo muito mal...
O médico aproximou-se do leito e viu, encolhido e tremendo, o senhor Adalberto, ardendo em febre. Era o lenhador mais forte da região, mas fora atacado pela peste que grassava por aqueles tempos.
Examinando-o, sentiu-lhe a temperatura, colocou umas tiras de pano, molhadas em água fria, em sua testa, receitou alguns remédios e disse:
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Em uma fria manhã de outono, Rafael chegava
apressado em sua humilde casa, com o médico

- Rafael, seu pai está muito grave. Necessita muitos cuidados. Você seria capaz de tornar-se responsável pela casa durante sua doença?
O menino aprumou o corpo e, com ares de homenzinho, respondeu- lhe:
- Claro que sim, doutor!
O médico explicou como ministrar- lhe os medicamentos e saiu para atender os muitos outros doentes que havia na região.
Pouco depois, chegou a avó, e Rafael foi correndo à cozinha para falar com ela:
- Vovó, más notícias...Papai está muito grave! A peste o atacou. Mas vamos cuidar bem dele!
E explicou à boa senhora as receitas que o médico havia dado, bem como os cuidados com sua alimentação.
- O doutor me pediu que assuma a casa enquanto papai se recupera - disse com ares de adulto.
De fato, depois de servir a sopa a Adalberto e de verificar que a febre havia diminuído um pouco, deixouo com a avó e dirigiu-se ao bosque para cortar as lenhas que o pai prometera a seus clientes. O inverno já tinha começado e prometia ser bem rigoroso naquele ano.
Ao terminar de fazer as entregas, entrou na igrejinha da aldeia e ajoelhou- se aos pés da bela imagem de Maria Auxiliadora, padroeira daquele povoado. E rezou com muita devoção, pedindo por seu pai, mais do que nada, pela saúde de sua alma...
Adalberto era muito honesto, mas não queria saber de frequentar a Igreja, nem de receber os Sacramentos. Como muitos homens de seu tempo, sentia-se autossuficiente, dizendo que acreditava em Deus, mas que não precisava de rezas, nem de Missas. Entretanto, Rafael tinha esperança de que, nessa hora de sofrimento, uma graça lhe tocaria o coração e o pai voltaria a frequentar a paróquia, como fazia no tempo em que sua mãe vivia.
Cheio de confiança e com o coração reconfortado, Rafael voltou para casa. Encontrou o pai um pouquinho melhor e contou-lhe como havia cumprido todos os seus compromissos. Este ficou satisfeito com o pequeno, que em seus doze anos de idade já demonstrava tanta disciplina e responsabilidade.
Ao cair da tarde, Rafael avistou pela janela do quarto o pároco e disse:
- Papai, vejo o padre Vicente voltando para a aldeia. Não quer dizer- lhe "boa tarde"?
O duro coração do lenhador, compreendendo as intenções do menino, não se moveu:
- Não, obrigado. Eu me viro sozinho.
Rafael não perdia as esperanças. Todas as noites rezava com sua avó pela conversão do pai. E, dia após dia, depois de cumprir suas obrigações, passava pela igreja, rezava, e estudava um meio de levar o pároco para conversar com o pai. Mas o lenhador estava irredutível.
Depois de alguns dias de aparente recuperação, Adalberto piorou. Durante a noite chamou pelo filho, com uma voz fraca:
- Rafael, Rafael... sinto-me muito mal! Mas já é noite fechada...acho que você não vai ter coragem...
O menino levantou-se ligeiro e, aproximando-se do pai, disse:
- Sim, papai. Eu tenho coragem. Vou correndo buscar o doutor!
Mas, para sua surpresa, o lenhador lhe retrucou:
- Não, Rafael, não é o doutor que eu quero. Sinto que meus dias estão no fim... Chame-me o padre Vicente!
O menino teve que conter as lágrimas pela emoção. E respondeu:
Edith Petitclerc
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"Papai, aqui está um futuro sacerdote que também
poderá perdoar. Prometo que serei padre!"

- Claro que sim, papai. Em seguida estou de volta com ele.
Caía uma fina chuva. Rafael pegou um lampião fechado para iluminar os escuros caminhos até a aldeia, abrigou-se bem e, depois de dar a boa-nova à avó, saiu correndo até a igreja. O pároco se despertou assustado com as fortes batidas na porta da casa paroquial, mas ao saber do que se tratava, aprontou-se rapidamente e dirigiu-se sem demora à casa do lenhador enfermo.
Embora se sentindo muito débil, Adalberto ajoelhou-se diante de uma imagenzinha de Nossa Senhora e logo começou a confessar seus pecados. Enquanto isso, do lado de fora do quarto, Rafael e a avó rezavam por ele.
Após receber sua última absolvição, o lenhador chamou o menino, e disse-lhe com a voz embargada:
- Meu filho, você não imagina como sinto minha alma em paz, refeita pelo perdão de Deus. Sei que logo me encontrarei com Ele. E apesar da tristeza em lhe deixar, sinto uma alegria imensa! Respeite sempre os sacerdotes: eles são os médicos mais eficazes! Às suas palavras as feridas mais profundas se cicatrizam e os maiores pecados são perdoados! Reze, meu filho, para que os enfermos sempre tenham, em sua última hora, a graça de um padre que os abençoe...
O pequeno, de joelhos à cabeceira do pai, sentiu no fundo da alma a grandeza do Sacramento da Reconciliação e o poder imenso que Deus colocou nas mãos de seus ministros. E sentindo-se arrebatado pela força da vocação, afirmou decididamente:
- Pois, papai, aqui está um futuro sacerdote que também poderá perdoar. Prometo que serei padre!
Nesse momento, Adalberto fez um grande sinal da cruz e, entregando sua alma a Deus, ainda pôde contemplar, em uma visão, o filho revestido de alva e estola, com a mão levantada como se estivesse dando uma absolvição.
Ajudado pela avó e pelo padre Vicente, Rafael entrou para o seminário e depois de longos estudos e muita oração, foi ordenado e pôde, também ele, devolver a paz a tantas almas. Aquela cena nunca saiu de sua lembrança, pois devia à última absolvição de seu pai a graça da vocação.
(Revista Arautos do Evangelho, Março/2010, n. 99, p. 46 - 47)

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