Visite o novo Blog dos Arautos em Campo Grande

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

domingo, 16 de dezembro de 2012

A primeira Árvore de Natal

Ao vê-lo, Jesus sorri de modo encantador e estende suas adoráveis mãozinhas para pegar aquelas luzes tão cintilantes. O pinheirinho não cabe em si de contentamento...
Irmã Tammie Laura Bonyun, EP
A época natalina sempre desponta com uma euforia de cores e alegria; casas e ruas se engalanam para celebrar o nascimento do Salvador, o acontecimento magno da Humanidade. As canções mais sublimes e harmoniosas são entoadas para acalentar o Deus Menino e os pinheirinhos, sempre verdes, são enfeitados com lindos e atraentes adornos, bem como com luzes, chocolates e doces.
Quem não terá tido o encanto, desde criança, de montar uma árvore de Natal em casa? No entanto, muitas crianças se perguntarão quem teve a idéia de ornamentar a primeira árvore, na noite de Natal? Recordemos a origem lendária deste belo costume natalino.
* * *
É noite. A natureza dorme debaixo de um manto branco, suave e gélido nas terras do Oriente. As estrelas cintilam nas alturas e a lua parece competir em alvura e brilho com a neve. As árvores choram, despojadas de folhas e flores, e suas lágrimas congeladas pendem dos galhos, parecendo diamantes reluzentes à luz do claro luar. Uma árvore, porém, mantém- se verde e vicejante: é o pinheiro que, apesar do gelo e do frio do inverno, nunca perde sua folhagem e parece reinar naquela solidão.
Primeira Arvore.jpg
Em meio à floresta de árvores congeladas, um pinheiro mantém-se
verde e vicejante, parecendo reinar naquela solidão

Mas, tudo dorme? Não! Numa pobre e fria gruta das redondezas, uma jovem virgem, de extraordinária beleza, vela junto com seu casto esposo. Em poucos minutos ela será Mãe!
Meia-noite! De forma miraculosa nasce o Bebê, pois Ele não é um menino qualquer. É ao mesmo tempo Deus e homem, criancinha frágil e terna, entretanto, é o Ser eterno e todo-poderoso, o Salvador da Humanidade, prometido aos profetas e por eles anunciado: é Jesus, o Filho de Deus e de Maria!
Nesse momento, uma melodia desconhecida faz-se ouvir. Em poucos instantes o Céu se enche de luzes, cores e sons extraordinários, e aparece uma multidão de anjos que anunciam o nascimento do Redentor, cantando: "Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!".
A natureza, até então seca e enregelada, de repente começa a tomar vigor como se fosse primavera! As árvores renovam suas folhas e flores, ficando muito mais bonitas do que antes. Tudo se torna colorido e perfumado. Animaizinhos, os mais variados, pequenos e grandes, saem de suas tocas para, felizes, brincar na neve, já coberta de vida. Os passarinhos abandonam seus ninhos para cantar as mais belas harmonias ao seu Criador feito homem. Também entre as árvores a alegria é geral, pois todas querem louvar este maravilhoso nascimento e têm algo para oferecer ao Menino Deus, acabado de nascer.
Só uma, entre as árvores, está triste e cabisbaixa: o pinheiro. Era ele o único a permanecer verde no meio do inverno. Contudo, agora, só ele não tem flores nem frutos para ofertar a Jesus. Seus galhos estão cobertos de folhas, é verdade, mas estes fincam e mais parecem espinhos, não permitindo se aproximar do recém-nascido, pois machucariam sua pele suave e delicada.
As outras árvores, compadecendo-se de sua desventura, não podem fazer nada. E o pinheirinho geme baixinho, sem ter ninguém a quem recorrer... Será que ninguém mesmo pode remediar sua tristeza?
As estrelas, lá no alto, brilham com mais fulgor e assim também elas louvam o Menino Jesus. E ao iluminar tudo, percebem haver na Terra alguém que não participa da mesma felicidade de todos. É o pobre pinheiro que se sente inútil e sem graça. Entreolham-se com pena e uma, a maior e a mais luzidia, propõe:
- Vamos ajudá-lo? Nós temos tanta luz e somos tantas que bem poderíamos emprestar-lhe um pouco de nossa luminosidade, pois deste modo ele teria algo para oferecer ao Menino Deus!
Todas aceitam a proposta e, com a rapidez do relâmpago, lançam-se sobre o pinheiro, que fica assustadíssimo, pensando incendiar-se!
Primeira Arvore A.jpg
Enfeitado pelas estrelas do céu o pinheirinho podia,
finalmente, alegrar o Menino Jesus

Mas o susto logo passa e, em um instante, vê-se ele todo coberto de brilhantes estrelas de todas as cores. Que alegria! Agora sim, está ele digno de apresentar-se diante do Divino Menininho, para louvá-Lo com este coruscar maravilhoso.
Ao vê-lo, Jesus sorri de modo encantador e estende suas adoráveis mãozinhas para pegar aquelas luzes tão cintilantes. O pinheirinho não cabe em si de contentamento... Por fim, depois de tanta tristeza, tem ele um presente que faz sorrir seu Criador.
Desde então, a cada aniversário do Menino Jesus, as estrelas, sem falhar uma só vez, desprendiam-se do firmamento para pousar nos galhos de todos os pinheirinhos da Terra e entregarem-se, estrelas e pinheiro, como presente ao Deus Menino.
Quando Jesus se elevou aos Céus, as estrelas não mais desceram à Terra para adornar os pinheiros. Elas subiram mais alto do que já estavam para ficar mais perto do Deus Humanado e, de alguma forma, embelezar ainda mais aquela festa eterna. Porém, na Terra, para recordar tal prodígio, as crianças começaram a decorar os pinheiros, na época do Natal, com bolinhas coloridas, estrelas reluzentes e todo tipo de enfeites e guloseimas, como oferta de seus inocentes corações, para alegrar o Coração do pequeno Salvador.
Saibamos nós também, neste Natal, oferecer o que temos de melhor a este Deus, feito Menino para nos abrir as portas do Paraíso perdido pelo pecado, à espera do momento em que possamos participar com Ele, sua Santíssima Mãe e São José, do grande banquete da vida celestial.
(Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2011, n. 120, p. 46-47)

sábado, 24 de novembro de 2012

Medalha Milagrosa - conheça sua bela história

Conheça a bela história de Nossa Senhora das Graças, cuja festa comemora-se no dia 27 de novembro.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Quanto ganha um rei?

Percorrendo seus vastos domínios, com altivez e orgulho, o monarca queria saber quanto ganhava cada trabalhador daquelas propriedades. Só não podia imaginar que não ganhavam eles menos do que o rei...
Irmã Ana Lúcia Iamasaki, EP
O rei Rigoberto era extremamente poderoso, pois seus domínios se estendiam das montanhas ao mar. O reino era próspero e havia grande harmonia entre os súditos. Todas as dificuldades de relacionamento surgidas entre os habitantes eram resolvidas na catedral, pelo Bispo do lugar, Dom Edmundo. Homem sábio e santo, não usava ele como argumento de juízo senão os Dez Mandamentos. Desta forma, se sabia onde estava a verdadeira razão nos casos conflituosos e tudo voltava à paz. A cada domingo, as Missas eram bem concorridas. Depois do sermão do Prelado, as filas dos confessionários se enchiam e os padres coadjutores eram testemunhas da imensa virtude e boa vontade daquela tão piedosa população.
img1.jpg
Em uma clara manhã de primavera, o monarca
se despertou decidido a explorar
seu vasto território

Apesar de tudo isso, o rei não era muito dado à Religião. Sempre ia à Missa, é claro! Até tinha um trono no presbitério. Mas não fazia mais do que isso...
Ao contrário dos vassalos e da rainha, não rezava nada e era assaz orgulhoso. Nas reuniões do Conselho Real, manifestava enorme ambição, querendo aumentar mais e mais sua renda e bem-estar particular, nunca estando plenamente satisfeito com os resultados. Nem mesmo o fato de ele não ter inimigos com quem guerrear e sua gente ser de paz o deixava contente.
Em uma clara manhã de primavera, o monarca se despertou decidido a explorar seu vasto território, para vê-lo com os próprios olhos e analisar se poderia fazer algo para aumentar seus benefícios pessoais. Mandou arrear o mais belo corcel da cavalariça, vestiu o sedoso traje de montaria de veludo, calçou as lustrosas botas de pelica com as esporas de ouro e adornou- se com sua mais bonita capa, preparando-se para a longa cavalgada. Acompanhado dos pajens e do chanceler real, saiu do palácio a galope.
As flores estavam em pleno vigor e coloriam os jardins. O trigo dourava os campos, as uvas perfumavam as vinhas, os moinhos giravam com a força do vento, esmagando os grãos para a farinha mais fina, e os rebanhos de bois, vacas, cabras e ovelhas pastavam mansos nos extensos e verdes campos de sua propriedade.
O soberano foi ficando animado por ver a beleza e a grandiosidade de suas posses. Contudo, algo o intrigava. Quanto deveria ganhar aquela gente corada e saudável, para trabalhar tão contente? Ele, que tanto possuía, não tinha tal felicidade... Aproximou-se do moleiro e disse:
Bom dia, senhor moleiro! Surpreso pela inesperada chegada real, limpando as mãos no avental e tirando o gorro, respondeu ele, com respeito:
- Bom dia, Majestade! A que devo a honra de vossa presença?
- Estou visitando meu vasto e próspero reino. Diga-me uma coisa: quanto ganha um moleiro para trabalhar no meu moinho?
- Ah, Majestade! Ganho 50 moedas reais e uma casinha, onde me abrigo com minha família. Não é muito, no entanto, vivemos bem, pela graça de Deus.
O rei se despediu e esporeou o cavalo, pensando: "Como alguém pode viver feliz com apenas 50 moedas? Isso não dá para nada!".
Aproximando-se das parreiras carregadas, viu vários vinhateiros na lida: alguns colhiam as uvas, outros trabalhavam no lagar. À chegada de tão nobre personagem, todos tiraram os chapéus de abas largas, fazendo uma reverência. Chamando o capataz, disse:
- Bom dia, jovem!
- Bom dia, Majestade! - respondeu o rapaz, cheio de veneração - Que ares trouxeram tão augusta presença a este lugar?
- Estou inspecionando meus domínios. Diga-me uma coisa: quanto ganham seus subalternos para trabalhar na minha vinha?

- Cada um deles, Majestade, ganha 60 moedas reais e mais uma gratificação pelas horas extras, no tempo da colheita, além da manutenção de suas famílias. Não é tanto, porém, vivemos com certa folga e agradecemos a Deus por não faltar trabalho.
Vendo a fisionomia sorridente de todos eles, despediu-se o monarca, ainda mais intrigado: "Ganham tão pouco e ainda agradecem a Deus?! Como pode ser isso?".
Ao meio-dia, chegou a um campo aberto, onde pastava um sereno rebanho de ovelhas. Encontrou o pastor com as mãos postas e o olhar elevado, rezando o Angelus. Ao terminar a oração, depois de um solene sinal da cruz, ele se virou para o rei e, fazendo uma inclinação profunda, tirou o chapeuzinho de feltro, dizendo com um franco e sincero sorriso:
- Majestade! Que surpresa!
- Bom dia, senhor pastor! Estou percorrendo minhas propriedades. Diga-me uma coisa: quanto ganha um pastor para guardar o meu rebanho?
img2.jpg
Ao ser indagado pelo rei o pastor respondeu: "Um
pastor em vossos campos, Majestade, ganha
o mesmo que o rei!"

Olhando fixamente para o soberano, respondeu ele com firmeza:
- Um pastor em vossos campos, Majestade, ganha o mesmo que o rei!
Tendo um sobressalto, este redarguiu:
- Como se atreve a dizer isso?! Um pastor não pode ganhar muito mais do que um moleiro ou um vinhateiro, e eles não passam nem perto dos lucros do rei! Sabe você quanto ganha um rei?
- Ora, Majestade. Com meu trabalho e minha vida, o que ganho eu é o Céu ou o inferno, dependendo de minha conduta. Vossa Majestade não pode ganhar nem mais, nem menos...
Ante tal resposta, o monarca caiu em si e compreendeu não ter valor nesta vida senão o que nos prepara para a outra... Mais importa ajuntar tesouros no Céu! E era isso o que fazia seu povo, razão de tão autêntica alegria.
Voltando para o palácio, o rei apeou do cavalo e dirigiu-se a pé para a catedral, a fim de buscar o santo Bispo, pois queria fazer uma boa Confissão e retomar a vida de piedade, abandonada há tanto tempo. Agora desejava entesourar no Céu e ser feliz! Os bons exemplos que passou a dar, a partir de então, não só lhe trouxeram proveito para si, senão mais graças e prosperidade para o povo e para o reino.
Revista Arautos do Evangelho, Julho/2012, n. 127, p. 46-47

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Meia hora menos...

Apesar de ser muito inteligente e esforçado, Gustavo continuava tirando notas baixas. Foi então que recebeu aquele inespo conselho: "Estude meia hora menos...".
Irmã Daniela Ayau Valladares, EP
A família de Gustavo era simples, mas muito religiosa. Desde bem pequenino, todas as manhãs, a avó, dona Esmeralda, o levava à Missa, e o menino se encantava com os acordes do órgão, com a luz do Sol entrando pelos vitrais, colorindo as paredes da igrejinha antiga de seu povoado e, sobretudo, com a sonora sineta que tocava durante a consagração. Impressionava-lhe ver aquela nave cheia de homens e mulheres que se ajoelhavam para adorar a Hóstia Consagrada, enquanto a vovó sussurrava-lhe cheia de fé:
imagem_1.jpg
O menino crescia cheio de piedade
e inocência

- Veja, Gustavinho, ali está Jesus! Terminada a Celebração Eucarística, antes de voltarem para o lar, a boa senhora tomava o neto pela mão e levava-o para visitar Maria Santíssima no altar lateral, onde se encontrava uma bela imagem da Virgem do Carmo.
À noite, o pai chegava em casa cansado do trabalho. Contudo, depois de jantar e rezar o Rosário em família, colocava o pequeno em seu colo e lhe contava muitas histórias dos santos e de Nossa Senhora com o Menino Jesus. E a mãe, ao dar-lhe o beijo de "boa noite" antes de dormir, nunca deixava de encomendá- -lo ao Anjo da Guarda.
Assim foi crescendo Gustavo, cheio de piedade e inocência. Por sua precocidade, logo entrou para o Catecismo da paróquia e fez a Primeira Comunhão antes mesmo da idade regulamentar, por uma concessão especial do padre Nicolau. O menino sonhava poder receber em seu peito aquele Jesus escondido sob as espécies eucarísticas que adorava desde o começo de seu uso da razão.
Sendo muito inteligente, Gustavo brilhava nos estudos. Era o primeiro da classe. Obediente e responsável, aprendia tudo com rapidez. Tão encantados estavam seus professores, que um deles, o de ciências naturais, resolveu interessar-se pessoalmente pelo futuro acadêmico do aluno. Estando o jovem na idade de cursar as séries mais avançadas, foi o mestre visitar seu humilde lar, e dirigindo-se ao pai, disse-lhe:
- Senhor Norberto, vim aqui falar do amanhã de seu filho.
- Pois não - respondeu o progenitor, um tanto intrigado...
O professor Raimundo então expôs seu plano: oferecia a oportunidade de levar o menino para a capital, onde viveria com seu irmão, que tinha um filho da mesma idade de Gustavo. Ali poderia frequentar a Escola Modelo até chegar o momento de entrar na Universidade para fazer o curso superior, que seria financiado por meio de uma bolsa de estudos. E pelo pendor que notava no dedicado aluno, seguramente se tornaria um grande médico.
Fixando o filho, o senhor Norberto encontrou dois olhinhos brilhantes de ilusão diante daquele plano de futuro tão promissor.
- Professor Raimundo - disse o pai - se Gustavo quiser eu autorizo, mas com a condição de que ele nunca deixe de ir à Missa e frequentar os Sacramentos. Os homens podem fazer quantos planos quiserem para suas vidas, mas sem a bênção de Deus nada chega a bom termo.
- Não se preocupe, senhor Norberto. Meu irmão e minha cunhada são católicos fervorosos. Gustavo estará em muito boas mãos.
Foi preparada a viagem e, logo depois das festas, Gustavo partiu para a cidade.
No primeiro ano, o jovem saiu-se muito bem. E quando voltou para casa, nas férias, os pais notaram que continuava o mesmo, responsável, cortês e muito piedoso. Porém, conforme a universidade se aproximava, as matérias iam se tornando cada vez mais difíceis. Era preciso estudar e estudar, diminuindo para isso o tempo dedicado aos atos de piedade.
imagem2_.jpg
Gustavo brilhava nos estudos.
Era o primeiro da classe

Dona Giovanna, mãe de seu companheiro Eduardo, nunca deixava de convidá-lo para ir à Missa, mas ele sempre lhe respondia não ser possível naquele momento, por estar muito ocupado. Aos poucos Gustavo foi também abandonando as orações costumeiras e acabou por não mais frequentar os Sacramentos.
Ora, apesar de todo esse esforço, algumas semanas antes da prova decisiva para entrar na faculdade, suas avaliações eram ainda insuficientes. Corria o risco de não ser admitido no curso de Medicina! Muito preocupado, decidiu ir visitar a família para espairecer um pouco... Mas o fez levando uma bagagem tão pesada que o pai mal podia carregá-la: estava cheia de livros!
Depois de abraçar a mãe e a avó, alegando estar cansado da viagem, pediu licença e retirou-se ao quarto para estudar. No dia seguinte, bem cedo, dona Esmeralda bateu à sua porta, convidando-o para ir com ela à Missa, como o fazia quando era pequeno. Gustavo aceitou a contragosto.
Porém, ao entrar na antiga igrejinha e ver a luz do Sol que os vitrais filtravam, colorindo todo o ambiente, sentiu em sua alma uma grande saudade. Saudade daquele tempo em que fazia de sua visita a Jesus e a Maria o momento mais importante de seu dia. Ah! Há quanto tempo ele não recebia aquele Jesus que tanto lhe atraia desde sua mais tenra infância!
Terminada a Celebração Eucarística, o padre Nicolau veio cumprimentar dona Esmeralda e perguntou a Gustavo como seguia com os estudos.
- Não muito bem - respondeu ele - preciso recuperar umas notas para poder entrar na Universidade.
imagem5.jpg
"Não se preocupe, estude meia
hora menos... e você se
sairá bem!
"

- Ora, não se preocupe - replicou o piedoso sacerdote - estude meia hora menos... e você se sairá bem!
- Como??! - perguntou-lhe o jovem perplexo.
Sim, estude meia hora menos e empregue este tempo rezando e pedindo à Virgem Santíssima que o ajude!...
As palavras do sacerdote fizeram Gustavo cair em si. Havia constatado quão inútil era confiar nas próprias forças e dava-se conta de que nada somos sem a graça de Deus, da qual Maria é a dispenseira. Imediatamente pediu ao padre que o confessasse e fez o bom propósito de seguir aquele conselho tão salutar! Estudaria, sim, mas sempre dedicaria meia hora - ou até mais! - à oração.
O resultado não se fez esperar. Gustavo obteve notas excelentes nos exames de ingresso na Universidade e, depois de alguns anos, tornou-se um grande médico que dava sempre este conselho aos seus pacientes: - Nunca deixem de dedicar meia hora a Deus todos os dias. Não há melhor modo de obter benefícios para o corpo e para a alma!
(Revista Arautos do Evangelho, Julho/2011, n. 115, p 46-47)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Año de la fé con los heraldos de Medellin.

Arautos do Evangelho de Medellin em cortejo procissional por ocasiao da abertura al año de la fé realizado por S.S. Bento XVI.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Um convite à humildade

Mons. Joáo Clá Dias comenta em sua homilia sobre virtude da humildade como base da virtude da fé.

 

sábado, 20 de outubro de 2012

Misericórdia Divina

Mons. João S. Clá Dias, comenta em sua homilia a manifestação da misericórdia de Deus, ao enviar o profeta Jonas à cidade de Nínive.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Mês de maio, mês de Maria



No mês de maio, mês de Maria, sente-se uma particular proteção de Nossa Senhora estender-se sobre todos os fiéis, uma alegria que brilha e ilumina nossos corações, exprimindo a certeza dos católicos de que o indispensável patrocínio de nossa Mãe celestial se torna, durante esse período, mais solícito, mais amoroso, mais cheio de visível misericórdia e exorável condescendência.


Para ajudar a louvar devidamente a Mãe do Céu, no mês especialmente consagrado a Ela, sugerimos uma oração e diversas reflexões. 

Em todos os instantes de nossa vida, Maria Santíssima estará sempre ao nosso encalço, amparando-nos e nos protegendo, na sua qualidade de Mãe e divina Pastora
Segundo a bela tradição católica, o mês de maio é dedicado a Nossa Senhora, e nada de mais próprio do que seus filhos e devotos festejarem-Na. É a ocasião de Lhe tributarem, de modo especial, toda a veneração, amor e carinho que lhes inunda o coração. É também a época de se solidarizarem de maneira mais profunda com Ela em suas apreensões de Mãe pela salvação das almas e pelo bem da Santa Igreja.
Provas de nosso amor
Para Lhe render essa homenagem, devemos começar por dizer a Nossa Senhora que reconhecemos ser Ela uma razão constante de alegria para os católicos, em todas as circunstâncias. Maria Santíssima é de tal maneira a Causa nostrae laetitiae — “causa de nossa alegria”, como A invoca a Ladainha Lauretana —, que o foi até mesmo na mais triste das situações, ou seja, quando seu Divino Filho padeceu e morreu pela redenção do gênero humano. Durante a Paixão, a presença d’Ela era um elemento de alegria e de satisfação para nós.
Devemos compreender, além disso, que o nosso preito filial não pode consistir meramente em comemorar as alegrias que Nossa Senhora nos dá, mas tem de comportar igualmente a consideração do que Ela sente ao ver as almas em perigo, ao ver a imensidão dos pecados que se alastram sobre a face da terra, ao ver filhos que Ela tanto ama, extraviados nos caminhos da perdição. Daí a nossa repulsa vigorosa ao mal que A entristece, e o nosso desejo de repará-La, e a seu adorável Filho, ser o termômetro de nossa entranhada veneração a Ela.
Pedir as graças que os outros recusam
Se, porventura, tomamos consciência de que esse nosso amor mariano é débil e fraco, devemos fazer um pedido a Nossa Senhora.
Por sua onipotente intercessão, a Santíssima Virgem faz chover de modo contínuo sobre o mundo graças de devoção e de fidelidade a Ela, assim como graças de repúdio ao mal e às tentações do demônio. E, infelizmente, essas graças não são recolhidas nem correspondidas da maneira tão ampla como deveriam ser. Muitas delas caem em chão arenoso ou em pedras onde não desabrocham. Devemos, então, ser sensíveis a essa prodigalidade de dons celestiais, não permitir que se desperdicem, e dirigir a Nossa Senhora esta súplica:
“Ó minha Mãe, por vossa insondável misericórdia, concedei-me todas as graças que os outros não aproveitam. Enchei minha alma com as dádivas divinas que reservastes para terceiros e que foram recusadas. Desse modo, correspondendo eu, amparado por vosso maternal auxílio, poderei reparar em algo a tristeza que representa para Vós a visão dessa caudal de graças sem aproveitamento. E que assim, ao menos neste vosso mísero escravo, resplandeça o dom feito aos homens. Amém.”
É uma prece a ser feita em todos os dias do mês de maio, por aqueles que se sentirem movidos interiormente a isso. Por exemplo, ao recebermos a Sagrada Eucaristia, expressemos a Nosso Senhor, por meio de sua Mãe Santíssima, o nosso desejo de que essas graças se recolham em nossa alma, que sejamos tochas ardentes de amor a Eles, e o receptáculo de todo espírito de incompatibilidade com o pecado e o mal, que devem caracterizar o verdadeiro católico.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A palavra de Deus em música

Sob a despretensiosa simplicidade do canto gregoriano oculta-se uma profunda riqueza que reporta a alma a um mundo misterioso e sobrenatural. Qual o segredo da atração desta antiquíssima forma de música sacra?
Irmã Kyla Mary Anne MacDonald, EP
Imersos na agitação do mundo atual, sempre absorvidos pela pressa, pela velocidade e pelo ruído, talvez não nos seja tão fácil conceber um ambiente diferente. Entretanto, convidamos o leitor a parar um pouco agora, e imaginar...
Imaginar um mosteiro, com um claustro austero, silencioso, acolhedor e elevado, por onde circulam alguns monges, gregoriano_.jpgsem pressa e recolhidos, dirigindo-se a uma capela iluminada apenas pela luz tamisada por uns belos vitrais coloridos.
Estes valorosos homens, tendo abandonado tudo para o serviço da Religião, dedicam sua vida ao trabalho, ao estudo e à oração. E como forma de externar o amor transbordante de seus corações, habitados pela graça, se unem em uma só voz para dirigir-se a Deus. Em uníssono, entoam hinos e cânticos que enchem o templo sagrado de melodias suaves e apaziguantes...
Já estará nosso leitor com o estado de espírito pronto para compreender qual é este estilo de canto e suas origens, para admirar a misteriosa riqueza e a elevada qualidade que fizeram dele o cântico sacro por excelência.
O canto gregoriano
O canto gregoriano é uma forma de música diferente de qualquer outra executada, hoje, no Ocidente. Distinto da polifonia, ele é uníssono e sua perfeição é atingida quando uma única voz se faz ouvir, mesmo sendo grande o conjunto que o entoa.
Em contraste com outros estilos musicais, nos quais um compasso regular e ritmado pode ser logo percebido, o canto gregoriano é caracterizado por seu ritmo livre, parecendo flutuar no ar, liberto do tempo, em um movimento ascendente
e descendente assemelhado às ondas do mar.
Enquanto a música comum e corrente, de modo geral, é composta em uma escala maior ou menor, dando-lhe características distintas de tristeza ou alegria, os oito modos do gregoriano transmitem uma gama mais sutil de expressão, num equilíbrio perfeito, parecendo sempre evitar os extremos emocionais dramáticos.
Estas são apenas algumas das razões pelas quais, para ouvidos pouco acostumados a ele, o canto gregoriano pode dar, à primeira vista, a impressão de ser monótono. Contudo, ao deixar-se levar por sua harmonia, a pessoa é tocada pela força singular de uma forma de canto que traz consigo séculos de sabedoria e reflete gerações de talentos religiosos que convergiram rumo à perfeição de suas melodias - suas "inspiradas modulações",1 na expressão do Papa
João Paulo II.
Assim, apesar de uma aparência simples, carrega dentro de si, como observa o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, uma formidável riqueza, "uma potencialidade quase inexaurível de gerar civilizações e maravilhas em qualquer parte do mundo. É a força da inocência aliada à graça, que transformou, por exemplo, os pântanos e vales mefíticos da antiga Europa em jardins salpicados de vida e de cor, onde, entre arvoredos e lagos lindíssimos, avantajam-se grandiosas abadias, imponentes castelos e majestosas catedrais. Uma Europa ‘gregorianizada'".2
Poder de mover as almas
Um dos mais ilustrativos exemplos do poder transformador deste canto o temos na conversão dos anglos. A iniciativa do Papa São Gregório I, o Magno, de penetrar na ilha dominada por estes bárbaros foi marcada pelas seguintes palavras: "o louvor de Deus Criador deve ser cantado naquelas terras".3 Sob sua direção, Santo Agostinho de Cantuária entrou na Grã-Bretanha, em cortejo com 40 outros beneditinos, entoando as "solenes e tocantes melodias que lhes havia ensinado Gregório, seu pai espiritual e pai da música religiosa".4 O celestial canto dos recém-chegados foi decisivo para a conversão do povo, em pouco tempo.
Tal episódio, um entre tantos no processo de "gregorianização" da Europa Ocidental, mostra que o Papa - cujo nome deu origem à denominação deste estilo musical - possuía uma profunda compreensão de como a música pode mover as almas com mais eficácia do que conseguem as simples palavras. Aqueles cantos eram a mais sobrenaturalizada das músicas e, no entanto, foram capazes de cativar bárbaros e camponeses completamente ignorantes em coisas espirituais e não habituados a refinados sons.
É o que ficou registrado na História: Gregório I "compôs com grande trabalho e destreza musical os cantos que são cantados em nossa Igreja e por toda a parte. Por este meio, ele influenciava mais efetivamente os corações dos homens, elevando-os e animando- -os; e, na verdade, o som de suas doces melodias conduziu não apenas homens espirituais à Igreja, mas até mesmo os rudes e insensíveis".5

Sao_Gregorio_Magno.jpg
São Gregório possuia uma uma
profunda compreensão de como
a música pode mover as almas


"São Gregório Magno", por Francisco
de Zurbarán Museu de Belas
Artes, Sevilha (Espanha)

Um novo impulso à unificação da música sacra
Uma tradição medieval relativa ao santo também mostra a multissecular crença de que o canto gregoriano lhe foi divinamente inspirado e explica o motivo de ser ele representado, muitas vezes, com uma pomba ao ouvido, e transcrevendo uma música que lhe está sendo ditada.
"Foi enquanto considerava o fascínio exercido pela música profana que Gregório foi levado a se perguntar se ele não poderia, como Davi, consagrar a música ao serviço de Deus. Uma noite, teve uma visão na qual a Igreja lhe aparecia sob a forma de uma musa, escrevendo suas melodias e reunindo seus filhos sob as dobras de seu manto. Sobre este manto estava escrita a arte da música, com todas as formas de seus tons, notas, neumas, e vários compassos e harmonias. Ele rezou para que Deus lhe desse o poder de recopilar tudo o que tinha visto. Ao acordar, uma pomba apareceu e ditou-lhe as composições musicais com as quais ele enriqueceu a Igreja".6
São Gregório usou este especial dom artístico para proporcionar um complemento decisivo ao trabalho de outros que o antecederam na música litúrgica - notadamente Santo Ambrósio7 -, dando uma harmonia final e unificada ao canto da Igreja em Roma, e impulsionando a sua implementação universal em toda a Europa Ocidental, causa que seria levada adiante por grandes homens depois dele, em particular Carlos Magno.
O assunto música sempre foi importante para a Igreja. Toda a Idade Média - bem como o mundo antigo antes dela - foi marcada por um grande interesse pela compreensão da influência dessa arte sobre a alma. O canto gregoriano, que atingiu seu auge por volta do século XIII, representa o fruto de um longo processo de explicitação e de aprimoramento.
"Canticum novum" na Igreja
Desde os tempos antigos, o povo louvava a divindade com cânticos. Na verdade, observa o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, a alma humana "procura a música para exprimir seus mais altos anelos, seus mais altos desejos, suas mais altas expressões".8 Santa Hildegarda de Bingen reconhece esta inclinação, afirmando que, em estado de perfeição original, Adão no Paraíso, antes da queda, cantava em vez de falar, e em sua voz "havia o som de todas as harmonias e suavidades de toda a arte musical".9
Era natural que com o estabelecimento do Cristianismo um novo cântico viesse caracterizar o culto litúrgico da Igreja. Os primeiros patrocinadores da salmodia e da hinologia cristãs não olhavam senão para o Homem-Deus como o inspirador deste canticum novum, pois, após a Última Ceia, "o próprio Senhor, um professor nas palavras e mestre nos fatos, [...] saiu do Monte das Oliveiras com os discípulos, depois de cantar um hino".10
Quando se deu a assinatura do Edito de Milão, pelo Imperador Constantino, foi permitido que o culto público dos cristãos florescesse e os fiéis encontraram no canto uma bela maneira de expressar e inspirar o amor a Deus, a contrição, as súplicas, ajudando a alma a louvar o Criador.
Contribuições de três mundos antigos - a teoria musical grega, a língua e as regras da métrica literária romanas e os livros sagrados dos judeus - se uniram para desenvolver uma arte sacra inteiramente nova, visando ajudar os textos sagrados a inspirar os corações daqueles que os ouviam.
Um elo entre o mundo dos sentidos e do espírito
Durante os primeiros séculos do Cristianismo, os Padres da Igreja viram na música e, sobretudo, no canto, um elo entre o mundo dos sentidos e o do espírito que poderia ajudar o homem no processo de transcendência espiritual. A esse respeito, as palavras de São João Crisóstomo são significativas: "Nada desperta tanto a alma, dando-lhe asas, deixando-a livre da terra, liberando- a da prisão do corpo, ensinando-a amar a sabedoria e rejeitar todas as coisas desta vida, como a melodia concordante e o cântico sacro".11

Img.jpg
O poder transformador do gregoriano foi demonstrado
durante a conversão dos anglos


"São Gregório Magno no mercado de escravos de
Roma" Catedral de Westminster, Londres

Misteriosa era, porém, a questão de como a palavra cantada obtinha maior entrada na alma do que a palavra falada. Santo Agostinho observa: "sinto que o nosso espírito se move mais religiosa e ardentemente para a chama da piedade com aquelas letras sacras, quando assim são cantadas, do que se não fossem cantadas deste modo"; refletindo mais sobre este mistério, não é capaz de explicá-lo inteiramente: "todos os afetos do nosso espírito, cada um segundo a sua diversidade, têm na voz e no canto as suas próprias medidas, não sabendo eu qual é a oculta afinidade com essas melodias que os desperta".12
A perspectiva medieval da música é também demonstrada por Boécio: "a música é de tal forma parte de nossa natureza que nós não podemos passar sem ela, mesmo que queiramos".13 Para ele, os ouvidos são vistos como uma vereda direta para a alma, a qual é altamente suscetível às influências da música.14
Parte da eficácia da música na conquista do acesso à alma foi atribuída à sua inata qualidade de agradar. Ela eleva a expressividade das palavras no cântico, tornando- as de mais fácil recordação ao ouvinte. São Nicetas chamava a música sacra de "remédio, suficientemente poderoso na cura das feridas do pecado, embora doce o suficiente ao paladar, por sua virtude. Por isso, quando um salmo é cantado, é doce ao ouvido. Penetra na alma porque é agradável. É facilmente retido, se é repetido com frequência".15
É ainda Santo Agostinho quem testemunha ter sentido, em si, tais benefícios, referindo-se à música da Igreja como uma das mais poderosas influências para sua conversão. Suas palavras uma vez mais sublinham como a alma é iluminada pelo que captam os ouvidos: "Quanto chorei ouvindo vossos hinos, vossos cânticos, os acentos suaves das harmonias que ecoavam em vossa Igreja! Que emoção me causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade em meu coração".16
Antes da difusão dos livros, quando a fé literalmente vinha através do ouvido (cf. Rm 10, 17), os cânticos eram também importantes instrumentos didáticos de doutrina. Santo Atanásio, no Oriente, por exemplo, e Santo Hilário de Poitiers, no Ocidente, fortaleceram as populações, contra os males do arianismo, escrevendo hinos os quais refutavam seus erros. Deste modo, as verdades da Fé eram fácil e afetuosamente assimiladas, atingindo um público muito maior do que as palavras escritas, porque, como ressalta a historiadora Régine Pernoud, "naquele tempo, se nem todos aprendiam a ler, todos aprendiam a cantar".17
Defensor do valor pedagógico da arte sacra, São Gregório Magno assim escreveu para dissuadir as atividades iconoclastas de um de seus bispos: "O que a Escritura é para os letrados, as imagens são para os ignorantes; [...] elas são para o povo a sua leitura".18 Porém, em terras onde apenas começavam a experimentar a Civilização Cristã, o esplendor dos vitrais e outras artes visuais tardariam em aparecer. Discerniu ele, então, estarem as melodias do canto gregoriano preparadas para fluir sobre as almas de seus ouvintes com toda sua grandeza, exercendo o mesmo tipo de influência educativa que as outras artes.

San Gregorio Catedral de Sevilla.jpg
Uma tradição medieval narra ter sido o canto
gregoriano divinamente inspirado


"Aparição da pomba a São Gregório"
Catedral de Sevilha, Espanha

Os beneditinos e os ouvidos do coração
Já nos primórdios da Igreja, então, o cântico sempre fez parte do culto, nas mais diversas ocasiões, onde quer que os fiéis se reunissem (cf. I Cor 14, 26). No entanto, como a era dos mártires deu lugar à era dos monges, a arte do canto litúrgico encontrou o local ideal para seu cultivo: os mosteiros. São João Cassiano, o eremita do Egito que introduziu o ideal do monaquismo na Gália, com o estabelecimento da Abadia de São Vitor, em Marselha, ensinava: "Nós, com frequência cantamos os salmos, de maneira que podemos continuamente crescer em compunção".19
O monaquismo que proliferou inicialmente na Europa Ocidental imitou de perto o monaquismo do deserto, do Oriente. Contudo, encontrou sua própria nota distintiva com a fundação dos beneditinos, em Subiaco, no século VI, e, por esta razão, São Bento é aclamado Pai do monaquismo ocidental.
Exerceu ele - de quem se pode dizer ter aplicado o dom romano do direito e da ordem às instituições monásticas - a mesma influência aperfeiçoadora sobre o canto sacro. O próprio São Gregório tinha sido monge antes de ocupar o sólio pontifício, e foi sua afinidade pessoal com os beneditinos que lhe deu um conhecimento completo dos modos do canto litúrgico, os quais serviram como matéria-prima do canto gregoriano. Os sábios beneditinos, por sua vez, historicamente tomariam a liderança na sua interpretação, preservação e restauração.
Para os beneditinos, assim como o trabalho era realizado em comum, era natural que sua tarefa primeira, o "trabalho de Deus" - como São Bento chama o Ofício Divino -, também devesse ser partilhado em comunidade, e era a clave de sua espiritualidade e de sua vida diária. Em sua regra, São Bento admoesta: "estejamos sempre atentos ao que diz o profeta: ‘Servi ao Senhor com temor'; e também: ‘Cantai sabiamente' e ‘Na presença dos anjos, cantarei a Vós'. Portanto, consideremos como devemos nos comportar na presença de Deus e de seus anjos e, desta forma, participemos do ofício de maneira que a mente esteja de acordo com a voz".20
É curioso o fato de o canto sacro ter florescido e adquirido sua forma mais perfeita em um ambiente onde, para favorecer a contemplação, os monges "deveriam ser zelosos em manter sempre o silêncio".21 O canto, que preenchia a maioria das horas de vigília, evidentemente não quebrava o silêncio interior dos monges, mas era consonante com ele e, de fato, fruto dele.
"Ausculta, o fili [...] et inclina aurem cordis tui"22 - "Ouve, filho, e inclina os ouvidos de teu coração" é a exortação de abertura da regra beneditina. Silêncio que abre os ouvidos do coração para a voz não pronunciada da graça e torna a alma mais perceptiva para os significados mais profundos das palavras. Comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que os aspectos imponderáveis existentes no som musical ajudam a revelar este aspecto imponderável da palavra e "põem em foco uma porção de coisas que o sentido literal da palavra não diz".23
A palavra de Deus em música
Ao atingir o século XII, os beneditinos, em seu aperfeiçoamento do canto sacro, tiveram grandes discernimentos sobre a "oculta afinidade" entre palavra, música e alma, considerada por Santo Agostinho, como foi visto. Santa Hildegarda de Bingen via a palavra e a música como uma representação mística da união da natureza humana e divina, na Encarnação: "a palavra designa o corpo, mas a música manifesta o espírito. Porque a harmonia do paraíso proclama a divindade do Filho de Deus, e a palavra faz conhecer sua humanidade".24

imagem.jpg
"Ouve, filho, e inclina os ouvidos
de teu coração" - assim inicia a
regra beneditina

Detalhe de "Nossa Senhora entronizada
com santos e anjos", por Agnolo Gaddi
National Gallery of Art, Nova York

São Bernardo mostra como os ouvidos corporais estão relacionados aos ouvidos do coração, ensinando dever o canto "agradar o ouvido a fim de mover o coração".25 O Doutor Melífluo - ele próprio autor de grande número de hinos em estilo gregoriano - afirma que os cânticos devem ser, acima de tudo, resplandecentes com a verdade, de maneira que a melodia "não deve obscurecer o significado do texto, mais propriamente, deve fazê-lo frutífero".26
No século XIII, São Tomás de Aquino combinaria suas habilidades musicais - as quais ele desenvolveu durante sua formação juvenil com os beneditinos de Monte Cassino - com sua extraordinária capacidade dominicana de ensinar, para
compor, ambas, as melodias e as palavras de alguns dos mais valiosos hinos eucarísticos da Igreja. Para ele, "um hino é o louvor a Deus com cântico; um cântico é uma exultação da mente habitando nas coisas eternas, irrompendo na voz".27 Sua obra prima, Lauda Sion Salvatorem, melodicamente encerra toda a doutrina da Igreja relativa à Eucaristia.
O canto gregoriano, então, consistindo tão somente de palavras com uma única linha melódica, "traz o ‘ouvido do coração' muito perto da palavra divina, com a finalidade de ouvi-la diretamente".28
Pio XII elogia esta qualidade do canto gregoriano: "Pela íntima aderência das melodias às palavras do texto sagrado, esse canto não só se enquadra a este plenamente, mas parece quase interpretar-lhe a força e a eficácia, instilando doçura na alma de quem o escuta; e isso por meios musicais simples e fáceis, entretanto, permeados de tão sublime e santa arte, que em todos suscitam sentimentos de sincera admiração".29
O componente musical do canto gregoriano possui ricos instrumentos de expressão a fim de colocar o texto em alto relevo, quase se tornando um com as palavras, como demonstra D. Dominic Johner: "A música gregoriana, todavia, não é meramente uma música de ornamento; ela não descreve o texto como uma guirlanda cinge uma coluna, sem conexão íntima com ela. O canto pode também tornar o texto interpretativo, expressivo e explanativo. Com frequência traz suas graduações até o ponto exato em que uma interpretação declamatória do texto cresce em calor e enfatiza aquela palavra que marca seu clímax. [...] Tornar-se-á evidente que o canto une de modo perfeito o texto e a melodia, e que há uma íntima relação, uma união de espírito, entre eles".30
Um dos meios pelos quais o canto gregoriano revela o significado textual é através do uso da ordem das notas, ascensões, descidas e intervalos, cada um dos quais desempenha um determinado papel na interpretação do tema cantado. D. Johner ainda esclarece que os intervalos maiores e ascendentes denotam maior envolvimento da sensibilidade do que os intervalos menores e descendentes. Deste modo, uma frase melódica composta principalmente de segundas e terças - padrão predominante na maioria dos cantos - estabelece um ambiente de moderação e serenidade, com uma grande capacidade para a expressão de reverência e terna confiança. Em contraste, um intervalo de quarta cria um impacto mais forte; ascendendo, é portentoso, festivo. Para o intervalo de quinta é reservada a expressão das mais profundas experiências do espírito, seja tristeza, serena felicidade ou fé profunda e admiração.31
Em momentos fugazes, a linha melódica do canto parece até mesmo interromper a dimensão verbal e levantar voo em puro jubilus, uma expressão musical de uma alegria além das palavras, que tipicamente ornamenta uma palavra como Alleluia. Esta forma de vocalização livre é, na pena de Santo Agostinho, "a voz do coração irrompendo em alegria, e procurando também expressar sentimentos cujo significado talvez nem compreenda. [...] Quando somos jubilosos? Quando glorificamos algo que não pode ser expresso".32

imagem.jpg
É dever do canto, ensina São
Bernardo, "agradar o ouvido a fim
de mover o coração"

"São Bernardo", por Arnaldo Bassa
Museu Nacional de Arte da Catalunha,
Barcelona (Espanha)

Expressão do sobrenatural: tônico das almas
Para São Gregório Magno, o canto sacro pode de fato preparar o coração para a ação de Deus: "Através da voz da salmódia, quando é entoada com a força do coração, um caminho está preparado para o Senhor onipotente, de modo que Ele possa derramar na mente atenta os mistérios da profecia ou a graça da compunção. [...] Quando Lhe cantamos, abrimos um sendeiro para que Ele possa vir à nossa alma e inflamar-nos, pela graça de seu amor".33 O primeiro monge Papa também compreendeu que certos sons musicais podem favorecer este encontro, em uma natureza humana tão inclinada a ater-se aos aspectos temporais e materiais da existência.
Por exemplo, uma peça musical convencional termina na nota tônica, dando um sentido de conclusão. A melodia do canto gregoriano, em contraste, quase sempre não faz esta resolução final na última nota, evocando um sentido do infinito, de eternidade. Ademais, pela extrema leveza de seu movimento, o canto gregoriano é interpretado da maneira a mais espiritual possível, embora permaneça dentro do domínio dos sentidos, pois, como comenta D. Mocquereau, ele "toma emprestado o mínimo possível do mundo material e se move, invisivelmente; ele avança, porém, imponderavelmente".34
Estas sugestões de imaterialidade e eternidade ecoam no canto gregoriano, e, quando assimilado ao longo do tempo pela alma, podem ajudar na formação de um estado de espírito correspondente e salutar. Para o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, ouvir canto gregoriano "lembra o aspecto penitencial, adverte contra o vazio das coisas terrenas, contra o mentiroso dos élans excessivos do próprio homem. Assim é o gregoriano. Das alegrias exultantes do Te Deum aos recolhimentos solenes do Tantum ergo, é a música que tem essa qualidade incomparável de exprimir a atitude perfeita, o exato grau de luz da alma reta e verdadeiramente inocente quando se coloca diante de Deus".35
Depois de haver feito o leitor passear pelos panoramas do canto gregoriano, o qual coloca a alma na dimensão do sagrado tão distinto do mundo em que vivemos, ao terminar queremos deixar-lhe um conselho: "Procure ter seu temperamento no estado do espírito do canto gregoriano, e terá encontrado uma via certa para a sua santificação".36
(Revista Arautos do Evangelho, Jan/2012, n. 121, p. 18 à 25)